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Channel: racismo – Aventar
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Wokismo é folclore. Poder é outra coisa

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Somos constantemente bombardeados com histórias mirabolantes sobre o lobby woke, que, alegadamente, tomou conta dos EUA. Sobre o poder de uma esquerda que praticamente não existe, com a excepção de uma meia-dúzia de representantes eleitos em círculos mais progressistas, como Ocasio-Cortez ou Bernie Sanders, que por cá, quanto muito, integrariam as fileiras do PS ou, no limite, a ala social-democrata do BE.

Acontece que, nas questões que realmente importam, nas decisões que realmente pesam e definem o futuro dos americanos, vemos quem verdadeiramente manda naquele país.

Vemo-lo no enorme fosso que separa ricos e pobres, num país que ainda é a maior economia mundial e permite que pessoas trabalhadoras vivam em tendas, porque não ganham o suficiente para pagar uma casa. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo no belicismo crónico de quem constantemente invade e se imiscui na soberania de terceiros, com centenas de bases militares espalhadas pelo mundo. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo no capitalismo mais agressivo e radical que ali se cultiva e pratica, gerador de crises cíclicas que arrasam a vida de milhões de pessoas, a milhares de quilómetros dali. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo na quase total ausência de regulação ou obstáculos a voracidade da aristocracia financeira e empresarial, tornando-a maior que muitos Estados, que facilmente se tornam reféns dos tubarões. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo na ausência de uma rede de segurança em áreas fundamentais como a saúde e a educação, onde o fosso entre ricos e pobres se aprofunda. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo no florescer de movimentos racistas, xenófobos, em avançado processo de normalização, que saíram do armário para se tornarem mainstream, com imprensa afiliada e inúmeros representantes na Câmara e no Senado. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo na proliferação de armas sem background check, que se traduz, de longe, na mais elevada taxa de tiroteios e mortes a eles associadas, à escala mundial. Em nome da liberdade, dizem eles.

Vemo-lo na bizarria de ser mais fácil a um miúdo de 18 anos comprar uma arma do que uma cerveja. E nos massacres que se multiplicam nas escolas, não raras vezes acompanhados de manifestos de teor supremacista, condimentado por e teorias da conspiração construídas pela extrema-direita, com a absurdo da “Grande Substituição” à cabeça. Em nome da liberdade, dizem eles.

E vimo-lo estes dias, na revogação de Roe vs Wade, um enorme retrocesso para os frágeis direitos das mulheres. Um retrocesso que, ao invés de reduzir o número de abortos, resultará num aumento de mortes de mulheres, que recorrerão à clandestinidade. As pobres, claro, porque as ricas poderão sempre pagar para o fazer onde ele se mantiver legal.

Tudo em nome da liberdade, dizem eles.

É este o país controlado pelo wokismo de esquerda?

Qual esquerda?

O poder do wokismo é uma ficção. Ele existe, de facto, mas é tão relevante como o nosso António Guterres. Tem palco, é ouvido e tem alguma influência, se os astros estiverem alinhados, mas não manda nada. Nada. Rigorosamente nada.

Nos EUA mandam a finança, a energia, as tecnológicas e o armamento. Mandam as too big to fail, que literalmente compram e dirigem a maior parte dos membros do Congresso. Até a China, maior adversário e credor dos EUA (sim, o patriotismo americano também tem um preço, e não é tão elevado assim), manda mais que o wokismo. O wokismo não decide, não manda, não impõe. É folclore que entretém as massas. Poder é outra coisa.


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