A 24 Agosto de 2020, Kyle Rittenhouse, de 17 anos, fez os 53km que separam Antioch, no Estado do Illinois, de Kenosha, no Estado vizinho do Wisconsin, onde decorreria, no dia seguinte, uma manifestação de protesto contra a violência policial, dias após Jacob Blake ter sido baleado sete vezes por um agente da autoridade, Rusten Sheskey.
Parece-me evidente que Rittenhouse foi à procura de problemas. De outra forma, não teria feito 53km até Kenosha, onde o aguardava a sua AR-15, para – alegadamente – proteger uma propriedade que nem sequer era sua. Uma característica comum entre os militantes da extrema-direita é precisamente essa: a ideia, contrária ao espírito da democracia e do Estado de Direito, de que é legítimo fazer justiça pelas próprias mãos.
Infelizmente, Kyle Rittenhouse conseguiu o que queria e lá arranjou problemas. Que resolveu assassinando duas pessoas e ferindo uma terceira. Entregou-se de seguida à uma equipa SWAT no local, sem nunca largar a sua arma, algo que, não raras vezes, seria suficiente para ser baleado pelas forças da autoridade, caso fosse negro, mas não foi detido no momento. Seria detido mais tarde, já em casa, no Illinois. A impunidade da extrema-direita norte-americana é, de facto, um caso de estudo.
O julgamento de Kyle Rittenhouse terminou hoje e Kyle foi absolvido. O júri considerou que Kyle agiu em legítima defesa e ilibou-o de todos os crimes. Isto num país onde os estabelecimentos prisionais – lucrativo negócio, cotado em bolsa – estão a rebentar pelas costura de inmates detidos por crimes menores. Tivesse Kyle ficado em casa, sem ir à procura de problemas ao Estado vizinho, e talvez não tivesse que disparar a sua arma e tirado a vida a duas pessoas. Mas Kyle queria problemas, conseguiu-os e safou-se. Fosse um negro do Bronx e passaria o resto dos seus dia na prisão. That’s how it works in America.