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Ainda me lembro, até porque não foi assim há tanto tempo, quando Gabriel Mithá Ribeiro, durante 15 anos membro do PSD, lançou um livro de elogio à “nova direita europeia”, que na verdade é velha, bafienta e descendente da direita que nos deu a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto e as ditaduras que, felizmente, acabaram todas derrotadas. A mesma direita que invadiu e matou (continua a matar) ucranianos, impunemente, todos os dias. É desta direita que falamos.
Para apresentar o seu “Um século de escombros”, que começa com dedicatória aos faróis ideológicos do agora deputado do Chega – Viktor Orbán, o Cavalo de Tróia de Putin na Europa e na NATO, Donald Trump e Jair Bolsonaro, entre outros extremistas que tem como referência – teve ao seu lado Maria Luís Albuquerque, então colega de partido que aceitou fazer a apresentação da obra de glorificação de neofascistas. À sua frente Passos Coelho, que também não faltou à chamada. Diz-me com quem andas…
Aliados naturais à parte, é interessante notar que Mithá Ribeiro, na sua estreia absoluta a “mamar” o dinheiro dos contribuintes no Parlamento, decidiu gozar com a cara do próprio Mithá Ribeiro, dando a entender, nos Passos Perdidos, que a sua não-eleição para vice-presidente da AR se deveu a questões raciais:
Eu não posso apagar a qualidade de ser negro.
Gabriel Mithá Ribeiro, Passos Perdidos
Para quem não se lembra, Mithá Ribeiro tem sido um dos mais vocais, entre a extrema-direita, a garantir que o racismo, em Portugal, não existe. Chegou mesmo a começar um texto, no Observador, da seguinte forma:
Caro leitor, se consegue lidar com as duas teses de sentidos opostos – o racismo existiu, o racismo deixou de existir – passou no primeiro teste de saúde mental.
Gabriel Mithá Ribeiro, Observador
Temos, portanto, um extremista acabadinho de reprovar no “teste de saúde mental”, que ainda há dias garantia que o racismo não existia, e que agora se escuda no racismo para justificar a sua não-eleição para vice da AR. Como se a sua não-eleição não tivesse resultado do mesmo motivo que levou à não eleição de Pacheco de Amorim, e que reside no facto de o Parlamento ser globalmente avesso aos herdeiros da ditadura fascista do Estado Novo. Para Mithá Ribeiro, o racismo é como o Gato de Schrödinger. Existe? Não existe? Ninguém sabe. Seja como for, fica desde já claro que haverá uma disputa acesa no interior do CH. Uma disputa para decidir qual o deputado da extrema-direita que fará as mais tristes figuras. Mithá pontuou mas não pode baixar a guarda. O misógino da Opus Dei, a feminista anti-feminista e a ambientalista que só aceitou um cargo de natureza técnica estão em grande forma. Para não falar no pequeno Putin, que nunca vacila. Vai ser um fartote.